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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O hereditário opcional

Entende-se por hereditário tudo aquilo que se transmite de pais para filhos. Em conceitos de ciência genética, isso quer dizer DNA. Embora especialistas afirmem que até mesmo traços da nossa personalidade vieram como herança dos nossos progenitores em nosso DNA. Acredito que - em se tratando de personalidade - a herança maior é transmitida pelo contato, pelos exemplos, pelas histórias e experiências de cada época através das gerações das pessoas que nos criaram, sejam elas pais biológicos ou não. É isso mesmo! Não creio que nossa personalidade seja definida somente por uma combinação genética, mas principalmente pela influência daqueles que nos cercam!

Observando separadamente as últimas gerações dentro dos contextos antropológicos e sociais de cada uma, minha atenção foi despertada para criação que os pais de cada geração, desde a II Guerra Mundial, têm dado aos seus filhos e principalmente O QUE esses filhos passam a buscar primordialmente, em função dessa criação.

Durante a II Guerra, muitos jovens viram de perto e alguns até vivenciaram a tristeza que é perder quem se ama. Em função disso, os que eram mais jovens nessa época, acabaram por dar um valor imenso ao amor e à liberdade; passaram a problematizar menos a vida, pois viram de perto o que era problema e sofrimento de verdade. Foi dessa forma, imbuídos desse sentimento, que os jovem da década de 40 tiveram seus filhos nos anos de guerra e pós guerra. Então, é simples observar que as pessoas que nasceram nesse período foram criadas num clima severo, onde tudo era muito pesado, rígido, gerando nessas pessoas uma necessidade indelével de paz e amor (isso te diz alguma coisa, né?!).

Pois é...

Aproximadamente vinte anos depois da II Guerra, chegavam à juventude os filhos dos filhos da guerra: a geração paz e amor, também conhecida como Baby boomers.

Analisando essa época e essas duas gerações, é simples observar como uma geração influência a próxima.

Alguns anos mais tarde o pessoal do paz e amor, também teve filhos, o que aconteceu por volta da década de 80. E se observarmos o comportamento da geração dos anos 60 e 70, será quase possível prevermos como serão seus filhos. Pois durante essa época, a violência era muito reduzida se comparada aos dias de hoje, assim como a preocupação com estudo e renda também não era muito grande. A verdade é que muitos aproveitaram ao máximo a juventude dessa época, que era feliz por natureza, onde faziam muitos amigos, iam a muitas festas, viviam muitos amores e por aí vai... Entretanto a idade foi chegando junto com a responsabilidade e com filhos. E são esses filhos que mudam os pais, principalmente nessa época. A criação dada pelos pais aos filhos nascidos por volta da década de 80, é muito peculiar, pois, depois de terem vivido intensamente, começam a repensar tudo o que fizeram, e vêem que a vida que levaram não é a melhor para os seus filhos, formando assim uma nova geração: a geração da novidade.

Vale ressaltar também que é graças ao esforço e dedicação de poucos, durante as últimas 6 décadas, que a geração novidade se consolidou. Deixa eu explicar.

Com o desenvolvimento tecnológico alcançado durante a segunda guerra e principalmente na guerra fria, foi possível a criação de tudo o que mais interessaria para a geração dos anos 80. Tudo que tinha sido desenvolvido de tecnologia para a guerra, foi adaptado e ganhou o âmbito doméstico. O que foi sensacional! Eu sou dessa geração e posso dizer com total conhecimento de causa.

E foi todo esse aquecimento da indústria tecnológica que propiciou diversas novas formas de curtir a juventude. O que acabou gerando um certo desconforto aos pais. Pois seus filhos ainda jovens dominavam algo que eles mal conheciam.

Outro ponto que é fácil de ser observado, principalmente aqui no Brasil, é que a geração do paz e amor, que viveu a ditadura e a repressão, teve pouca oportunidade e também não atentou para o desenvolvimento de uma carreira profissional, eram poucas as pessoas especializadas, com mestrado, doutorado. É verdade! Durante a década de 60 e 70, era possível contar nos dedos quem tinha um doutorado. Bem diferente de hoje!

Ou seja, é dentro desse contexto, que ressalto que a geração paz e amor, depois de ter filhos, acabou se voltando ao trabalho e à criação dos filhos, tendo pouco tempo para outras tarefas. Assim, esses filhos foram criados por pais muito trabalhadores e muito preocupados com a criação e com o estudo deles. A prova maior disso é a quantidade de jovens atualmente cursando nível superior. Afinal, essa geração dos anos 80, são os jovens de hoje!

E é justamente aí que mora a questão: se os jovens de hoje tem tanto acesso à informação, à tecnologia e à educação; depois de observarem como foram influenciados por seus pais e como seus avós influenciaram seus pais, qual será a criação, a influência que darão a seus filhos? O que vão repetir da criação que tiveram? O que não vão repetir?

Se todos soubessem a importância desse assunto e a capacidade que a influência passada de uma geração à outra tem de mudar a cara do mundo, de uma época, talvez os jovens ficassem mais atentos e cuidadosos a isso.

Pense nisso!

Se você ainda não tem filho, pode ser que logo, logo você venha a ter!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Manipulando a semântica

Na última quinta-feira, estive conversando com uma de minhas professoras que me relatou um fato bem interessante e até certo ponto intimidador.

Ela me contou que existem significados intrínsecos em algumas palavras, principalmente no meio jornalístico, ou seja, atribuem-se valores a algumas palavras, diferentes, ou melhor, que vão além do seu real (ou pelo menos de senso comum) significado. Essas palavras caem assim numa percepção quase generalizada e absurdamente subconsciente. E digo "absurdamente subconsciente", porque pouquíssimas pessoas se dão conta do que realmente acontece e o que realmente está por trás disso. E esse fato é bastante sério. Afinal, semântica pode ser o apogeu ou o caos durante o processo de cognição.

Acontece que durante muitos anos, ao lermos ou ouvirmos um jornal, nos deparamos muitas vezes com o seguinte termo: menor infrator. A palavra infrator em sua origem diz respeito àquele que ignora e despreza as leis e normas traçadas pelo estado para o correto e ordenado comportamento social da população. Já a palavra menor em sua origem dentro do contexto, aponta aquele que ainda não completou a maioridade, ou seja, menor de 18 anos - idade em que juridicamente uma pessoa sã é responsável e passível de arcar com seus atos. Simples né?!

Antes fosse......

Se pensarmos na palavra criança e no seu significado, veremos que esta se encaixa no mesmo conceito de "menor". De forma que toda criança é menor, mas nem todo menor é criança.

E é exatamente de acordo com esse pensamento que minha professora me fez observar que sempreeeee, mas sempre mesmo, há muito e muito tempo, a palavra menor está intimamente ligada às palavras infrator, delinquente, largado, à margem, e por aí vai.

É bizarro, mas é verdade. Passe a observar os jornais (em qualquer mídia) e você verá que não há incidência do termo “criança infratora”, ou “adolescente infrator”; é sempre menor infrator. Há uma separação entre o bem e o mal. Parece meio dramático e piegas, mas é assim que tem sido em relação, não só a essas palavras, mas a várias outras que são sinônimas, ou de significado próximo.

Resumindo. Toda vez que se noticia um fato bom, interessante ou agradável em relação a pessoas que não completaram 18 anos, tem-se usado as palavras: criança e adolescente. E quando se notícia algo ruim, triste ou ilegal usa-se a palavra: menor.

É como se você já estivesse errado só pelo fato de ser menor. Entende?

E onde essa questão semântica faz diferença?

Em tudo!

É dessa forma que rótulos passam a ser criados despercebidamente e entranham em nossos subconscientes quase que sem a nossa opinião, cercando-os de preconceitos invisíveis, porém muito maléficos e quase sempre indeléveis.

Quer ver outro exemplo?

A palavra "elite".

(Que foi a palavra que mais me inspirou a escrever)

Segundo um dicionário simples, a palavra elite quer dizer: o que há de melhor numa sociedade; o escol, a flor, a nata, o grupo mais culto ou mais forte, dominante na sociedade. Olha que lindo?! Que interessante?! Que atraente, né?!

Mas quando se usa a palavra elite, na maioria dos contextos possíveis, é gerado um certo desconforto. Para se ter uma idéia é uma palavra quase proibida em campanhas de marketing de tão desconfortável que é; pior que as palavras: suvaco, mariola e bucéfalo. Hehehe!!!

Isso acontece porque os meio de comunicação acabam agregando um valor inexistente a algumas palavras. No caso de “elite”, é sempre a “elite dominante” que domina, submete. Fazer parte da alguma elite acaba por se tornar um objetivo indesejado, quando na verdade, deveria ser exatamente o contrário.

Devemos estar bastante atentos a isso e termos total consciência do significado de cada palavra, tornando-nos claros com todos com os quais nos comunicamos. E isso nos ajuda a não criar mais conceitos errados ao ouvirmos determinados termos, ou até mesmo determinados nomes. Vai dizer que você pretende colocar o nome de sua filha Ariadna ou o do seu filho de Hitler? São apenas nomes...

Pois é.... rótulo depois que é criado é f***!!