Na última quinta-feira, estive conversando com uma de minhas professoras que me relatou um fato bem interessante e até certo ponto intimidador.
Ela me contou que existem significados intrínsecos em algumas palavras, principalmente no meio jornalístico, ou seja, atribuem-se valores a algumas palavras, diferentes, ou melhor, que vão além do seu real (ou pelo menos de senso comum) significado. Essas palavras caem assim numa percepção quase generalizada e absurdamente subconsciente. E digo "absurdamente subconsciente", porque pouquíssimas pessoas se dão conta do que realmente acontece e o que realmente está por trás disso. E esse fato é bastante sério. Afinal, semântica pode ser o apogeu ou o caos durante o processo de cognição.
Acontece que durante muitos anos, ao lermos ou ouvirmos um jornal, nos deparamos muitas vezes com o seguinte termo: menor infrator. A palavra infrator em sua origem diz respeito àquele que ignora e despreza as leis e normas traçadas pelo estado para o correto e ordenado comportamento social da população. Já a palavra menor em sua origem dentro do contexto, aponta aquele que ainda não completou a maioridade, ou seja, menor de 18 anos - idade em que juridicamente uma pessoa sã é responsável e passível de arcar com seus atos. Simples né?!
Antes fosse......
Se pensarmos na palavra criança e no seu significado, veremos que esta se encaixa no mesmo conceito de "menor". De forma que toda criança é menor, mas nem todo menor é criança.
E é exatamente de acordo com esse pensamento que minha professora me fez observar que sempreeeee, mas sempre mesmo, há muito e muito tempo, a palavra menor está intimamente ligada às palavras infrator, delinquente, largado, à margem, e por aí vai.
É bizarro, mas é verdade. Passe a observar os jornais (em qualquer mídia) e você verá que não há incidência do termo “criança infratora”, ou “adolescente infrator”; é sempre menor infrator. Há uma separação entre o bem e o mal. Parece meio dramático e piegas, mas é assim que tem sido em relação, não só a essas palavras, mas a várias outras que são sinônimas, ou de significado próximo.
Resumindo. Toda vez que se noticia um fato bom, interessante ou agradável em relação a pessoas que não completaram 18 anos, tem-se usado as palavras: criança e adolescente. E quando se notícia algo ruim, triste ou ilegal usa-se a palavra: menor.
É como se você já estivesse errado só pelo fato de ser menor. Entende?
E onde essa questão semântica faz diferença?
Em tudo!
É dessa forma que rótulos passam a ser criados despercebidamente e entranham em nossos subconscientes quase que sem a nossa opinião, cercando-os de preconceitos invisíveis, porém muito maléficos e quase sempre indeléveis.
Quer ver outro exemplo?
A palavra "elite".
(Que foi a palavra que mais me inspirou a escrever)
Segundo um dicionário simples, a palavra elite quer dizer: o que há de melhor numa sociedade; o escol, a flor, a nata, o grupo mais culto ou mais forte, dominante na sociedade. Olha que lindo?! Que interessante?! Que atraente, né?!
Mas quando se usa a palavra elite, na maioria dos contextos possíveis, é gerado um certo desconforto. Para se ter uma idéia é uma palavra quase proibida em campanhas de marketing de tão desconfortável que é; pior que as palavras: suvaco, mariola e bucéfalo. Hehehe!!!
Isso acontece porque os meio de comunicação acabam agregando um valor inexistente a algumas palavras. No caso de “elite”, é sempre a “elite dominante” que domina, submete. Fazer parte da alguma elite acaba por se tornar um objetivo indesejado, quando na verdade, deveria ser exatamente o contrário.
Devemos estar bastante atentos a isso e termos total consciência do significado de cada palavra, tornando-nos claros com todos com os quais nos comunicamos. E isso nos ajuda a não criar mais conceitos errados ao ouvirmos determinados termos, ou até mesmo determinados nomes. Vai dizer que você pretende colocar o nome de sua filha Ariadna ou o do seu filho de Hitler? São apenas nomes...
Pois é.... rótulo depois que é criado é f***!!